Em evento da UFSC e do Fazendo Escola, conferencistas expõem superexploração virtual do trabalho

25/10/2021 09:32

Devido  à pandemia, o trabalho remoto se mostrou viável e essencial até o momento, apesar de todo o improviso dos servidores, que compulsoriamente invocaram a criatividade para gestar trabalho e vida doméstica. As diversas formas de tecnologia se pulverizaram dentro de casa e os servidores se viram tendo que operar diversos sistemas. Resultado: superexploração, controle, violência moral (cobranças excessivas), sobrecarga, adoecimentos.

E nesse contexto, cabe advertir que as mudanças tecnológicas precisam ser amparadas por  discussões profundas sobre um mundo do trabalho que ampare os trabalhadores, ao invés de jogá-los no abismo produtivista e meritocrático, que geram sintomas e adoecimentos psíquicos.

E foi exatamente este o assunto de abertura do primeiro dia do seminário internacional: “Futuro do Trabalho: Perspectivas Latino- americanas”, que ocorreu ontem (20/10), de forma virtual pelo canal do Fazendo Escola, do SINJUSC e do Lastro, Laboratório de Sociologia do Trabalho da UFSC. O evento é uma parceria da UFSC, com apoio do Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal no Estado de Santa Catarina (Sintrajusc) e Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (Sindjusrs).

Os conferencistas presentes Carlos Salas Páez e Laura Cymbalista colocaram os envolvidos para pensar como a tecnologia pode auxiliar e facilitar a rotina de trabalho e não aprofundar as rotinas extenuantes dos trabalhadores.

“A tecnologia deve facilitar a nossa rotina, mas não é isso que vemos no dia a dia. É mais trabalho, mais ferramentas para operar, mais coisas sem sentido para fazer, além do controle sobre nossos horários”, pontou Cymbalista, que é professora, coordenadora pedagógica em escola da Rede Municipal de Ensino de São Paulo e representante do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem).

A docente trouxe a luta dos professores da rede municipal de São Paulo: a categoria ficou 117 dias paralisada, reivindicando melhores condições sanitárias para o retorno e a vacinação dos professores, além do aparelhamento e suporte tecnológico para que os professore pudessem lecionar e os alunos acompanhar as aulas.

“As aulas online foram jogadas no nosso colo e tivemos que nos adequar. O trabalho remoto não define nossa jornada. A rotina do professor tem horários diversos e não há limites. Essa é a lógica da exploração, estar sempre disponível. O dia que o whatsapp caiu foi uma alento”, recorda.

Salas, que é doutor em economia e docente na Universidade Nacional Autónoma de México, fez um recorte sobre a importância da luta política, sobretudo, contra o avanço da precarização do trabalho.

“Hoje a luta continua sendo política e não tecnológica. O capital tem conseguido dividir a classe trabalhadora, ao passo que a pandemia acelerou a virtualização do trabalho e tirou o trabalhador da organização da luta. A separação social do trabalho é uma ameaça às formas organizativas dos trabalhadores. É preciso refletir sobre isso e enfrentar. Por isso, a luta política é vital à sobrevivência dos trabalhadores e da população”, reforçou o docente ao fazer referência do enfreamentamento contra os negacionistas e pela manutenção dos direitos trabalhistas na américa latina.

Salas também relacionou a produtividade ao aumento do estresses e das doenças psicológicas relacionados ao estresse.

“O governo federal (México) utilizou muito o trabalho remoto e algumas empresas também. E isso trouxe base para avaliar o impacto do home office e as principais queixam foram sobre o aumento do estresse. A produtividade aumentou, mas o estresse também se intensificou. “Quando você traz o trabalho para dentro de casa não há limite de jornada, gerando muita ansiedade porque você não desliga, está sempre conectado”, criticou.

Para ver a transmissão, clique aqui.

Após o seminário, os presentes continuaram o debate em outra plataforma online, trocando experiências e reforçando a necessidade da manutenção da luta organizada dos trabalhadores.

SEGUNDO ENCONTRO DIA 27/10 – PROGRAMA-SE

O evento segue até 24 de novembro com encontros virtuais todas as quartas-feiras, às 18h30. O segundo encontro ocorre na próxima semana, dia 27/10, às 18h30, de novo pelo canal do Youtube do Lastro e do Fazendo Escola. Para ter direito ao certificado de 12 horas emitido pela UFSC, é necessário fazer inscrição (CLIQUE AQUI) e assistir pelo menos cinco encontros. Para ver a programação completa, CLIQUE AQUI.

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